Apesar do predomínio de dias nublados e de chuvas com menor frequência e intensidade, registradas em períodos anteriores, o excesso de umidade prejudicou a finalização da colheita da soja na metade Norte do Rio Grande do Sul. No entanto, mesmo nas regiões onde as precipitações foram menores, os solos permanecem saturados de umidade, prejudicando a atividade. De acordo com o Informativo Conjuntural divulgado nesta quinta-feira (23/05) pela Emater/RS-Ascar, a área colhida no Estado alcançou 91%, estando 9% da área em maturação. Nas áreas em colheita, além das perdas por grãos germinados, mofados e pela debulha natural, que aumentam a cada dia de atraso, os custos têm sido elevados em razão da colheita em solo úmido, levando à utilização parcial dos graneleiros, em função do excesso de peso, para evitar danos na locomoção.
A entrega da soja nas unidades de secagem e armazenamento também foi impactada, especialmente nos primeiros dias de retomada da colheita, em razão da alta umidade dos grãos, muitas vezes próxima a 30%. Para a armazenagem adequada, é necessário reduzir a umidade para cerca de 14%, mas a capacidade dos secadores é limitada. As cooperativas com unidades de recebimento nas regiões Central e Campanha têm transportado os grãos para realizar a secagem nas sedes localizadas no Planalto Médio, em decorrência da alta demanda de tempo e lenha para a combustão nos locais de colheita.
As perdas nas lavouras colhidas, após o período chuvoso, são elevadas, mas observa-se que naquelas implantadas mais tardiamente, cujo ciclo se encerrou há poucos dias, o índice de grãos avariados ou germinados é menor. A estimativa de produtividade projetada inicialmente era de 3.329 kg/ha, porém deverá variar negativamente, dependendo dos resultados dos levantamentos que estão sendo realizados nas áreas a serem colhidas e perdidas.
Milho – A operação de colheita avançou 4% em relação à semana anterior, atingindo 92% da área cultivada. As precipitações e umidades elevadas, em grande parte do Estado, atrasaram a operação nas últimas semanas. Contudo, as lavouras por colher (6% em maturação e 2% em enchimento de grãos) passam a apresentar senescência, fungos – com alto risco de desenvolvimento de micotoxinas – e germinação em espiga, o que gera certa urgência pela retirada da cultura do campo. A área de cultivo está estimada em 812.795 hectares, e a produtividade atual em 6.464 kg/ha, podendo haver redução, conforme resultado dos levantamentos de perdas, que estão em andamento.
Milho silagem – A colheita prosseguiu de forma gradual. Nas regiões mais ao Sul do Estado, houve maior atividade, beneficiada pela diminuição das precipitações, que possibilitou a utilização das lavouras ainda em ponto de ensilagem. Apesar da alta umidade, devido à reduzida exposição ao sol, as plantas apresentaram algumas folhas cloróticas, o que compromete a qualidade do produto a ser armazenado. Observa-se um aumento na senescência das folhas, e estima-se que as atividades de ensilagem sejam concluídas em breve nas últimas áreas cultivadas. A colheita alcançou 98%. A produtividade projetada para a safra permanece em 35.518 kg/ha.
Nas regiões dos Vales e Central, parte dos silos foi perdida por alagamentos, e há grande dificuldade para fornecer alimentação aos rebanhos, especialmente leiteiro. Estão, são realizadas ações de socorro emergenciais por associações de criadores, sendo apoiadas pelos extensionistas da Emater/RS-Ascar.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Santa Rosa, como alternativa, muitos agricultores utilizaram lavouras avariadas, inicialmente destinadas à produção de grãos, para confecção de silagem, no intuito de fazer o aproveitamento da massa vegetal. As lavouras implantadas tardiamente apresentam sinais recorrentes de enfezamento vermelho, que ocorre pela dificuldade do controle das populações de cigarrinha. Também se observa redução do tamanho das folhas, que apresentam menor rendimento de forragem nas áreas colhidas.
Feijão 1ª safra – A colheita foi concluída. Estimam-se 25.264 hectares cultivados e 1.930 kg/ha de produtividade.
Feijão 2ª safra – Apesar do menor volume de chuvas durante o período, o predomínio de tempo instável e de baixa radiação solar reduziu o desempenho vegetativo e reprodutivo dos cultivos. O excesso de umidade impediu o avanço significativo da colheita. A área cultivada em 2ª safra no Estado está estimada em 19.900 hectares, e a produtividade deverá ser inferior à projetada, de 1.568 kg/ha.
Arroz – A colheita de arroz foi retomada e se aproxima do final, beneficiada pelo clima com poucas chuvas nas regiões Sul, Centro e Oeste do Estado. Estima-se que aproximadamente 95% das lavouras tenham sido colhidas. Contudo, as perdas provocadas pela submersão de cultivos maduros e pelo acamamento de plantas estão consolidadas, levando muitos produtores a abandonarem as áreas remanescentes, devido à inviabilidade técnica e econômica para realizar a operação. Em alguns municípios, os produtores estão concluindo a colheita e aproveitando o tempo mais seco para realizar as atividades de incorporação das restevas e adiantar o preparo dos talhões para a próxima safra.
A área cultivada com arroz no Estado está estimada em 900.203 hectares, conforme o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A produtividade inicialmente estimada em 8.325 kg/ha, mas deverá sofrer redução após o levantamento das perdas que está sendo realizado.
PASTAGENS E CRIAÇÕES
Em todo o Estado, a situação dos campos nativos e das pastagens cultivadas é preocupante, em razão de haver grandes áreas comprometidas pelo excesso de umidade. O solo encharcado está dificultando tanto a semeadura quanto o desenvolvimento das culturas em fase vegetativa. Embora as sobressemeaduras em campo nativo ou áreas perenes de verão tenham sido menos afetadas, seu crescimento vegetativo sofre atrasos consideráveis, em razão da baixa radiação solar.
BOVINOCULTURA DE CORTE – As condições do rebanho são extremas em função das enchentes, que provocaram grande número de mortes por afogamento e alagamento em áreas baixas. A falta significativa de pastagem afeta o estado nutricional dos animais, que, em algumas regiões, estão sendo transferidos para outros campos. Muitos produtores têm permitido o acesso às lavouras de soja não colhidas e às restevas. Mesmo com a queda das temperaturas, a infestação por carrapato continua alta, levando à recomendação de carrapaticidas injetáveis em decorrência das chuvas frequentes. Aumentam os cuidados em relação aos rebanhos, pois há possibilidade de incidência de doenças com a chegada do frio, dada a umidade excessiva e a debilidade dos animais. No que tange à comercialização, ainda há dificuldades na emissão de documentos de trânsito e venda, bem como bloqueios em estradas de acesso às propriedades.
BOVINOCULTURA DE LEITE – Nas regiões menos afetadas pelas enchentes, os rebanhos encontram-se, de modo geral, em boas condições sanitárias. Já onde os eventos foram mais extremos, é crescente o registro de perdas de animais, assim como de queda da produção. As condições adversas, resultantes das chuvas e enchentes, aumentaram os riscos de acidente, lesões e incidência de doenças, como mastite e problemas respiratórios. A atenção em relação a surtos de leptospirose também está redobrada, tanto para pessoas quanto para os animais, devido ao grande escoamento de água nas instalações, onde há presença constante de roedores. Estão sendo feitas, em várias propriedades, revacinações de rebanhos, visando à proteção contra a leptospirose.
APICULTURA – Na região administrativa da Emater/RS-Ascar em Bagé, após várias semanas de chuvas volumosas, os apicultores puderam finalmente acessar os apiários para manutenções e revisões. Em Dom Pedrito, alguns apicultores optaram por não colher o mel do outono, deixando-o acumulado para o consumo dos enxames. Na de Caxias do Sul, a postura das rainhas e a população de abelhas foram significativamente reduzidas, e os estoques de alimentos foram parcialmente consumidos, necessitando de suplementação alimentar em muitos apiários. A diminuição das chuvas permitiu aos apicultores começar a acessar os apiários e contabilizar os prejuízos; foram constatadas muitas perdas de colmeias devido aos ventos e ao arrastamento pelas águas. Na de Erechim, as chuvas constantes e a queda de temperatura durante as noites tornaram as condições desfavoráveis para a atividade apícola. A baixa oferta de pólen e néctar ocasionou uma redução significativa no movimento das abelhas, deixando as colmeias com reservas de alimento insuficientes para enfrentar o outono/inverno. Na região de Ijuí, os produtores estão se preparando para o próximo ciclo, realizando a aquisição de insumos para a alimentação das colmeias e realizando reparos nas caixas. Na de Passo Fundo, o excesso de chuvas, a umidade, a menor insolação e a redução de temperaturas têm mantido as abelhas dentro das colmeias, aumentando a dependência dos enxames por reservas internas acumuladas da safra anterior, que já estão baixas, como consequência do menor desempenho na última safra de verão.
Na região da Emater/RS-Ascar de Pelotas, em Canguçu, foi dado início ao manejo de inverno com alimentação pastosa para enxames mais fracos. A comercialização segue paralisada, e os preços estão em baixa. Em Cerrito, houve registro de perdas de enxames em função da falta de alimento e do excesso de chuvas. Em Jaguarão, a colheita foi impossibilitada pelas chuvas, e há relatos de perda entre 50% e 60% dos enxames. Na de Porto Alegre, as cheias causaram enormes prejuízos aos apiários, resultando na perda de mais de mil colmeias, embora a contabilização total ainda não seja possível. Não houve manejo nos apiários durante a semana, mas alguns apicultores conseguiram transportar caixas para áreas mais altas com o intuito de evitar maiores perdas. Na de Santa Rosa, há uma crescente demanda por produtos apícolas em decorrência da chegada do clima mais frio. As floradas seguem escassas, aumentando a necessidade de monitoramento das colmeias. Na de Soledade, faz aproximadamente três semanas de tempo seco, mas os enxames ainda continuam muito prejudicados. A colheita está em fase final e será reduzida, como ocorreu no período de primavera-verão.
Fonte: Notícias Agrícolas
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